sexta-feira, 30 de março de 2012

Brasil exporta 42 produções em 2011



Rio de Janeiro é a locação preferida para filmes internacionais; 40% dos trabalhos foram para os Estados Unidos


Os altos custos de produção, agravados pela valorização do real, ainda estão longe de tirar a carta “Brasil” do baralho das produções internacionais. Um levantamento da Film Brazil mostra que, em 2011, foram exportadas 42 produções publicitárias, um volume de negócios estimado em US$ 11,5 milhões. As cifras representam um crescimento de 41% em relação a 2010. Dessas produções, 23 foram realizadas por produtoras brasileiras associadas à Film Brazil.
Os números apontam que 40% dessa demanda vieram dos Estados Unidos, seguido pelo Reino Unido (28%) e, em parcelas menores, Japão, França e Alemanha. O Rio de Janeiro, com 60% das locações, foi o destino preferido, seguido de São Paulo, com 38%. O estudo indica ainda que o período que concentra o maior volume de produções é entre os meses de outubro e março, durante o outono e o inverno da Europa e América do Norte.
Criado em 2003, época em que o câmbio era favorável à exportação, o projeto Film Brazil, uma parceria entre Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), surgiu com a proposta de incrementar os negócios das produtoras no mercado externo oferecendo os diferenciais competitivos do País. “Para apresentar nosso setor de maneira organizada, juntamos um grupo de empresas com foco no mercado internacional para contemplar o núcleo internacional da associação. Realizamos todo ano uma série de ações internacionais desde participação em feiras, rodadas de negócio até seminários internacionais de capacitação”, conta Leyla Fernandes, presidente da Apro.

A primeira etapa do projeto, implantada entre 2003 e 2006, concentrou esforços na promoção das locações e, principalmente, nos custos – até então vantajosos. O passo seguinte, entre 2007 e 2010, marcou o posicionamento com foco em qualidade técnica, profissionalismo, inovação e criatividade. “A partir do final de 2010, passamos por um momento de profunda reflexão e reavaliação. Por influência da Apex, foi realizado o exercício de planejamento estratégico do setor, envolvendo mais de 30 empresas participantes do projeto”, conta Leyla.

Na pauta também está a exploração das grandes oportunidades que serão geradas para o setor com a proximidade da Copa do Mundo e da Olimpíada. Uma das ações de maior visibilidade da Film Brazil tem sido o Festival de Cannes, no qual seus representantes são presença garantida desde 2003. Em 2012, o projeto patrocina pela segunda vez a categoria Film Craft Lions, criada em 2010.

Confira como foi a produção brasileira nas telinhas lá fora:
- Conspiração Filmes: Cerca de 15% da produção envolve projetos exportados para países da América Latina e África do Sul;
- Delicatessen: Em 2011 exportou filmes para Del Valle, Nike e Campari, mas mercado externo representa menos de 5% dos negócios;
- Fulano: filme de Chiclets da WMcCann foi exportado no ano passado para Colômbia, Peru, Venezuela e Equador;
- Hungry Man: filmes para Nike Argentina, Fruttare Hotel, Mitsubishi e Samsung;
- Margarida: produções mais recentes para Chevrolet, na Argentina, e Unilever, no Uruguai;
- Mixer: Filmes para Knorr pedidos pela Lowe Londres foram exibidos em 11 países europeus. Produções para Listerine, Coca-Cola e Avon para veiculação na América Latina;
- Tycoon: produção de mais de 100 peças publicitárias para Portugal e Espanha, com destaque para filme produzido na Islândia para o Rock in Rio Madrid;
- Vetor Zero/Lobo: mais de 70 produções para a varejista Bodega Aurrera (do grupo Walmart no México) e campanhas de Natal do magazine Liverpool, além de três filmes para a companhia aérea Porter (Canadá).
Fonte - Produtoras
(*) Este conteúdo faz parte da reportagem especial Produção Publicitária, publicada na edição 1502 de Meio & Mensagem, com data de 26 de março.


Crédito da foto: Fotolia
Fonte: http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/noticias/2012/03/27/Brasil-exporta-42-producoes-em-2011.html

quinta-feira, 29 de março de 2012

Hugo Cabret e o cinema de Georges Méliès

O longa do prestigiado diretor Martin Scorsese foge ao seu padrão de filmes policiais e violentos: trata-se do adorável conto do garoto Hugo que, de posse de um robô e junto de uma amiga, descobre o maravilhoso mundo através da história do cineasta Georges Méliès, cujo filme mais famoso é "Viagem à Lua". Surpreendentemente, os fatos mostrados no filme têm precisão exemplar em relação à realidade.

© "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese (Paramont).


Ganhador de cinco estatuetas do Oscar e de dois prêmios Bafta, "A Invenção de Hugo Cabret" representou uma mudança radical no estilo do diretor Martin Scorsese. Conhecido por suas tramas sangrentas e ambientadas no submundo do crime, o diretor provou que realmente sabe fazer de tudo: não só entregou um belo filme como também mostrou como usar o 3D para complementar o trabalho. E mais: trata-se de uma bela homenagem às raízes do cinema, em mais um ano em que Hollywood esteve cheia de remakes e continuações desnecessárias.
Hugo Cabret (Asa Butterfield) é um órfão que vive entre as paredes da estação de trem de Paris. Ele guarda consigo um robô quebrado, deixado por seu falecido pai (Jude Law). Um dia, ao fugir do inspetor da estação (Sacha Baron Cohen), conhece Isabelle (Chloe Moretz), uma jovem com quem faz amizade. Logo Hugo descobre que ela tem uma chave com o fecho em forma de coração, exatamente do mesmo tamanho da fechadura existente no robô. A chave, porém, acaba abrindo um portal para o passado esquecido do cinema.
É difícil especificar quando e como surgiu o cinema, já que existem várias formas de entender o que o termo representa. Na década de 1890, por exemplo, o cinema apareceu como mais uma atração dos circos. Coube a Georges Méliès transformar aquele "sideshow" no que viria a ser um verdadeiro espetáculo, uma viagem. Através de seus números de mágica e truques de efeitos especiais, criava as primeiras aventuras do cinema. Entre 1896 e 1913, Georges Méliès dirigiu nada menos do que 531 filmes. Seu filme mais conhecido e icônico é "Viagem à Lua".


© "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese (Paramont).


Méliès ganha um retrato certeiro em "Hugo". Mais do que isso, trata-se de uma parte de sua história que é contada sem falhas ou exageros, algo tão difícil de ver no cinema. "Hugo", ao mesmo tempo, homenageia a gênese do cinema e faz uso de sua mais nova tecnologia, o 3D. E este recurso é usado como deveria ser por todos os outros: é um artifício da narrativa e não o fio condutor dela.
Em uma época de poucas ideias e muitas reproduções cansadas, "Hugo" aparece utilizando o passado para fazer com que se reavalie o presente e, principalmente, o futuro. Hollywood está perdida, mas ocasionalmente aparecem trabalhos como este para indicar os rumos.

© "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese (Paramont).

© "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese (Paramont).

© "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese (Paramont).   
 Fonte: Obvious

Se quiser saber mais sobre o filme, confira o texto de Lucas Molinari AQUI.

quarta-feira, 28 de março de 2012

O cinema independente em evidência

Brasília recebe, pela primeira vez, a Mostra do Filme Livre, que exibe produções independentes de vários realizadores brasileiros. O evento começa no dia 27 de março e homenageia o cineasta Edgard Navarro, um dos ícones do cinema alternativo


A filosofia punk do “faça você mesmo” resume bem o conceito da Mostra do Filme Livre, que chega a sua décima primeira edição. O festival exibe obras feitas em todos os suportes, formatos e gêneros, inéditos ou não, das mais variadas épocas. Pela primeira vez na capital federal, o evento – que já é sucesso de público desde 2002, em São Paulo – traz uma programação que privilegia as melhores produções do cinema independente.

De acordo com o organizador da mostra, Guilherme Whitaker, a MFL 2012 exibe filmes que fogem do lugar comum. “Há 11 anos, diferentemente de hoje, era muito mais difícil fazer um filme. Não tínhamos a facilidade da internet, por exemplo, e nem espaço para esses trabalhos”, analisa. “Por isso, criamos a mostra, que é uma chance de apresentar essas produções”, acrescenta.

Whitaker chama atenção também para o crescimento na quantidade de participantes. Em 45 dias de inscrições, o festival recebeu um número recorde de solicitações, com 801 títulos concorrentes. Do total, apenas 15% (114 filmes) tiveram apoio estatal na sua realização, 180 foram selecionados para disputar prêmios e outros 50 serão exibidos como filmes convidados. “A cada ano, temos recebido mais inscrições vindas de diversos lugares do país, em diferentes formatos e linguagens”, ressalta. “A mostra tem como característica exibir filmes atuais, de baixo custo e que, em sua grande maioria, não tiveram qualquer tipo de apoio estatal”, diz o organizador.

Homenagem

A MFL 2012 tem a curadoria de Chico Serra, Christian Caselli, Gabriel Sanna, Manu Sobral e Marcelo Ikeda, e homenageia o cineasta baiano Edgard Navarro, que exibirá seu último filme O homem que não dormia, além de outros títulos que marcaram sua carreira e a história do cinema independente no Brasil.

Navarro já é conhecido dos cinéfilos brasilienses. Em 2005, levou sete prêmios do Festival de Cinema de Brasília com o filme Eu me lembro. Já O homem que não dormia foi uma das atrações do Festival de Brasília do ano passado e mostra as angústias de cinco personagens diante de um mesmo pesadelo em uma pequena cidade no interior da Bahia, atormentada por uma lenda de um tesouro perdido. Ainda não existe previsão para que essa produção faça sua estreia no circuito comercial.

Segundo Whitaker, o cineasta é um ícone do cinema alternativo e merece a homenagem prestada pelo festival. “Ele tem uma grande produção dos anos 1970 em formato super-8, considerado o mais alternativo de todos”, pontua. “Seu trabalho é original e polêmico”. O organizador frisa, ainda, a forma apaixonada como o cineasta conduz sua obra. “Ele produziu filmes radicais que traziam recados contra a ditadura. Fez cinema com todas as dificuldades que isso exige, como, por exemplo, a falta de acesso à verba para a realização de longas-metragens”, detalha. Para Whitaker, os filmes Eu me lembro (premiado no Festival de Brasília) e O homem que não dormia marcam o renascimento do trabalho de Navarro.

O cineasta baiano estará em Brasília no dia 30 de março para participar de um debate com o também realizador André Luiz de Oliveira, às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil. “No Rio de Janeiro, esse debate foi muito bom, com um astral positivo. Esperamos repetir o sucesso em Brasília”, adianta Whitaker.

Além das sessões de cinema, a programação traz palestras, debates e lançamentos de livros. Dia 10 de abril, às 20h, no auditório FAC da UnB, os curadores da MFL falam sobre a trajetória do festival, o cenário dos filmes alternativos, os nomes de destaque na área e os obstáculos para quem faz cinema no Brasil.

Premiação

O festival premiará 11 películas e as exibições estão divididas nas categorias Panoramas Livres (com oito sessões de curtas), Outro Olhar (cinco sessões), Curta o longa (nove longas precedidos de curtas), e as sessões especiais Mostrinha Livre (para crianças), Sexuada (de temática sexual), Bordas (filmes trash), Mundo Livre (filmes feitos por brasileiros no exterior), Pílulas (filmes de até cinco minutos) e Coisas Nossas (filmes realizados pela própria curadoria e equipe da MFL). A capital ganha, ainda, duas sessões especiais. A Curta Brasília exibe seis produções brasilienses recentes e a Retrospectiva MFL traz filmes participantes de edições anteriores da mostra.

O encerramento do festival, em Brasília, será no dia 13 de abril, no auditório da Universidade de Brasília, às 20h, com a divertida Sessão Invisível, na qual os espectadores ganham apitos para sinalizarem quando o filme não estiver agradando. De acordo com a avaliação da plateia, o filme poderá até mesmo ser trocado por outro. Para finalizar o evento, o Balaio Café (201 Norte) – ponto de encontro do público alternativo da cidade – promove, nesta mesma data, uma festa a partir das 22h.


11ª Mostra do Filme LivreDe 27 de março a 8 de abril, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, trecho 2), e de 9 a 13 de abril, na Universidade de Brasília. Entrada franca.


Fonte: Cerrado Mix - Mais Comunidade

terça-feira, 27 de março de 2012

Governo anuncia medidas para popularizar o cinema



O governo federal quer popularizar o cinema em áreas onde a população tem pouco ou nenhum acesso a esse tipo de entretenimento. Hoje (26), a presidenta Dilma Rousseff publicou no Diário Oficial da União mensagem instituindo o Programa Cinema Perto de Você, destinado à ampliação, diversificação e descentralização do mercado de salas de exibição cinematográfica no Brasil e a estimular a exibição de filmes nacionais.
Por meio do programa, serão disponibilizadas linhas de crédito e de investimento para implantação de complexos de exibição e medidas tributárias de estímulo à expansão e à modernização do parque exibidor de cinema.
O governo criou, também, o Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica (Recine). Dessa forma, suspende a exigência de diversos tributos para estimular a aquisição de máquinas, aparelhos, instrumentos e equipamentos novos, destinados a complexos de exibição ou cinemas itinerantes.
Entre os tributos suspensos – para pessoas jurídicas beneficiárias do Recine – estão a contribuição para o PIS/Pasep e a contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente na saída do estabelecimento industrial ou equiparado; o IPI incidente no desembaraço aduaneiro; e o Imposto de Importação, quando os bens ou materiais de construção, sem similar nacional, precisarem ser importados.
Outra medida do programa é o Projeto Cinema da Cidade, que estimulará a instalação de cinemas em zonas urbanas ou cidades desprovidas ou mal atendidas por falta de salas de exibição. Nesses locais serão priorizados os filmes nacionais.
Para se candidatarem ao Projeto Cinema da Cidade, os municípios ou estados precisam estar de acordo com as especificações técnicas definidas pelo Programa Cinema Perto de Você, inclusive no que se refere a acessibilidade. As salas precisam estar implantadas em imóveis de propriedade pública; e a operação das salas deve preferencialmente ser feita por empresa exibidora.

Fonte: Site Agência Brasil

quinta-feira, 22 de março de 2012

1984 | Clássico de George Orwell vai ganhar nova adaptação ao cinema

Projeto nasceu da vontade de Shepard Faurey, o artista responsável pelo famoso pôster “Hope” de Barack Obama

1984, clássico de George Orwell, vai ganhar uma nova adaptação ao cinema, segundo o Hollywood Reporter.
No romance distópico, publicado em 1949, Orwell mostra uma sociedade em permanete estado de guerra, fundamentada em paranóia, propaganda, vigilância e controle. A história é centrada em Winston Smith, um funcionário do Ministério da Verdade, órgão responsável por alterar fatos históricos e obras da literatura para atestar a competência do governo. Desiludido com sua vida, Smith nutre secretamente desejos de rebelião e por um amor proibido.

O romance, considerado a obra prima de Orwell, tornou comuns termos como Big Brother e se transformou em símbolo do autoritarismo, da fiscalização e da invasão sobre os direitos do indivíduo – o termo orwelliano, por exemplo, é usado para descrever qualquer semelhança ao regime ficcional do livro.

O projeto nasceu da vontade de Shepard Fairey, o artista responsável pelo famoso pôster “Hope” de Barack Obama, que levou a ideia de uma nova versão até a Imagine Entertainment Julie Yorn, da LBI Entertainment, também assinará a produção.

O livro, publicado no Brasil pela Cia. das Letras, foi adaptado diversas vezes, no cinema e na TV, sendo a mais famisa a de Michael Radford, lançada em 1984 e estrelada por John Hurt, Richard Burton e Suzanna Hamilton. 

George Orwell foi um dos escritores mais influentes do século XX. Ele descreveu em livros todas as suas vivências como guarda na Birmânia ou como professor. Assista ao trailler.

 Fonte: Uol

 

terça-feira, 20 de março de 2012

Brasil será representado por 3 filmes em festival de cinema em NY

Três filmes brasileiros aparecem entre as 12 produções que serão apresentadas em Nova York no festival de cinema New Directors/New Films, que será realizado entre os dias 21 de março e 1º de abril.

Gravações de Cine Camelô

O Brasil será representado por Histórias Que Só Existem Quando Lembradas, de Julia Murat, O Som ao Redor, de Kléber Mendonça Filho, e Cine Camelô, de Clarissa Knoll, informou a organização do festival nesta terça-feira (20), em comunicado de imprensa.

Em sua 41ª edição, o festival, do qual participam 28 países, será aberto com Where Do We Go Now?, uma tragicomédia da libanesa Nadine Labaki sobre um grupo de mulheres que tentam salvar sua comunidade da violência sectária e que ganhou o prêmio do público no Festival de Toronto em 2011.
A Argentina também estará presente com Las Acacias, de Pablo Giorgelli, que conquistou o prêmio Câmera de Ouro do Festival de Cannes.

Completando a lista de representantes sul-americanos no festival está o colombiano Porfirio, de Alejandro Landes, que narra em tom de documentário a história de Porfirio Ramírez, um colombiano que ficou paraplégico após levar um tiro e que sequestrou um avião em 2005 para chamar a atenção do presidente sobre seu abandono por parte das autoridades.

Fonte: Site Terra

O cinema político de Miguel Littin



Uma constatação no momento presente é a de que, desde os anos 80, o cinema perdeu o status político que tinha nas décadas de 50, 60, principalmente, e na de 70. Havia uma vontade de conscientizar platéias e, com o cinema, mudar o mundo. Na Argentina, Fernando Birri (Mi hijo El Che), Fernando Solanas (no seu antológico Hora de los hornos: Notas y testimonios sobre el neocolonialismo, la violencia y la liberación, 1968, Perón: La revolución justicialista, 1971)), no Chile (Miguel Littin), na Italia (Francesco Rosi, Elio Petri, entre tantos), no Brasil (Glauber Rocha, Ruy Guerra...). A indústria cultural de Hollywood engoliu, porém, a cinematografia italiana, por exemplo, e o ímpeto transformista perdeu o seu ânimo, ainda que existam, atualmente, vozes isoladas que clamam por um cinema de denúncias, a exemplo do americano Michael Moore. Ir ao cinema, nos efervescentes anos 60, era um ato político, e o travelling, segundo Godard, uma questão de moral.
Descendente de imigrantes gregos e palestrinos, o chileno Miguel Littin, que esteve há poucos meses no Brasil para o lançamento de Dawson Ilha 10, pode ser considerado uma das reservas morais do bom cinema político latinoamericano.  Seu cinema é um cinema de denúncia, sim, mas sem apelar para o panfleto, e sempre à procura de um tom para a disposição de sua fabulação. Salvador Allende, o presidente  que foi assassinado durante o golpe em setembro de 1973, foi quem o indicou para a direção da companhia cinematográfica Chile Films, depois do grande sucesso alcançado por seu primeiro longa O Chacal de Nahueltoro, de 1969, que causou grande impacto na sociedade chilena por denunciar a situação de marginalidade dos homens do campo. 
Com a intervenção armada, patrocinada por Kissinger & Nixon, Littin se viu obrigado a abandonar o seu país, levando nos braços os negativos de La tierra prometida, cuja finalização somente foi conseguida em território cubano. Um homem de esquerda, portanto, um cineasta enragé, mas que, nos seus filmes, demonstra a ideologia por meio do poder de convencimento de suas imagens. Uma característica bem acentuada de suas constantes temáticas é a recriação de fatos reais para mostrar, sempre, a opressão sofrida pelo seu povo. No exílio após a ascensão de Pinochet, estabeleceu-se primeiro no México e depois na Espanha. A sua carreira cinematográfica, no entanto, ainda que enfrentando muitos obstáculos, continuou, chegando, inclusive, a ter, em 1981, seu filmeAlsina e el condor indicado para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Miguel Littin, num ato de bravura e coragem, apesar dos conselhos dos amigos, que o desestimulavam, resolveu voltar ao Chile e durante dois meses, escondido, conseguiu filmar a vida de seus compatriotas sob a opressão de uma ditatura sanguinária naquele que é talvez a sua obra-prima: Acta general del Chile. A experiência, inclusive, virou tema de um livro-reportagem do colombiano Gabriel García Márquez, que escreveu nos anos 80 A aventura de Miguel Littín clandestino no Chile. Feito com a colaboração de equipes estrangeiras, Acta general del Chile resultou numa película em duas versões: uma de quatro horas, para ser exibida, em partes, na televisão, e outra, de duas horas, para o cinema.
  Cineasta do figurativo, realista, que procura, em seus filmes, ser fidedigno ao real que reconstrói, o cinema de Miguel Littin , sobre conter um potencial ideológico e de denúncia de um estado de coisas, prende-se mais ao elo semântico do que ao elo sintático (compreendido este como a linguagem, a maneira de o realizador articular a sua narrativa). Antes de passar o recado em suas obras, Littin persegue a consciência da verdade, a exatidão dos fatos narrados, ainda que reconstituídos. Um western marxista, como Atas de Marusia (Actas de Marusia, 1975), é exemplar nesse sentido. No México, além deste, realizou mais quatro filmes de sucesso e iniciou, junto com Luis Buñuel e outros cineastas, um movimento para afirmação de uma identidade para o cinema latino-americano, de que resultou o Festival do Cinema Iberoamericano de Huelva.
Segundo palavras de Antonio Skarmeta, "Miguel Littín teve uma vida excepcional como criador de uma filmografia marcante na história cinematográfica latino-americana. Ele esteve permanentemente comprometido com uma visão autêntica de questões e personagens chilenos, utilizando-se de uma linguagem original e bela. As críticas nacionais e internacionais avaliaram seu trabalho algumas vezes e indicaram-no para Palma de Ouro, em Cannes, e para o Oscar em duas ocasiões."
"Seu filme El Chacal de Nahueltoro é uma inquestionável obra-prima na história da cinematografia mundial e ainda hoje é considerado como uma importante forma de militância contra a pena de morte nos centros internacionais judiciais, universais e políticos que discutem a causa."
Em Dawson - Ilha 10, uma co-produção entre Brasil (leia-se José Walter Lima e sua produtora VPL), Chile e Venezuela, baseado no livro Isla 10, de Sergio Bitar, que foi aprisionado na ilha quando do golpe de Pinochet no Chile, Littin procura mostrar o sofrimento de ministros e ex-colaboradores de Allende que foram aprisionados na ilha após a intervenção militar. Mas o que poderia ter resultado num filme maniqueísta, ainda que a notória aversão do autor à ditadura instalada, desdobra-se numa espécie de estudo de comportamentos de homens numa situação-limite, procurando sempre o viés do humanismo. Afinal de contas, Littin vê todos os seus personagens como chilenos que se debatem numa desumana guerra civil. O acúmulo de personagens, todavia, faz com que o filme se disperse e se dilua, perdendo, com isso, uma maior estruturação psicológica dos alguns personagens chaves, como o arquiteto, interpretado pelo baiano Bertrand Duarte (O homem que não dormiaO Superoutro), o próprio Bitar, feito pelo ator chileno Benjamin Vincuña, entre outros. Em alguns momentos, o acúmulo citado prejudica a clareza da exposição.
Há, por outro lado, momentos de humanismo, quando um soldado oferece uma fruta a um dos prisioneiros, a se ver no gesto, a solidariedade e, ao mesmo tempo, a brutalidade a que foram conduzidos chilenos obrigados, mesmo sem vontade explícita, a representar o papel de opressores. Ou na cena em que o sargento pede ao arquiteto para ir buscar um presente que sua esposa lhe mandou - um pote de geléia com pão - e ambos, sentados na escadaria da igreja, solidarizam-se no compartimento do alimento. Ou, pouco antes, quando os dois pulam na escada da igreja reconstruída e riem como crianças. No campo de concentração da Dawson, cada prisioneiro é despersonalizado e recebe o nome de Ilha. O nome do filme, Ilha 10, refere-se ao nome do prisioneiro com este número, que é o ministro das Minas e Energia, Sergio Bitar, que, quando na ilha escreveu um diário no qual Littin se baseou para fazer o filme.
Entre a narrativa e a fábula, Miguel Littin, em Dawson - Isla 10, dá mais impulso à segunda, e a utilização dos elementos da linguagem cinematográfica é feita de um modo suave a fim de que o aspecto figurativo do real seja preponderante. A beleza da ilha é flagrada com especial sentido de composição pela iluminação discreta de Miguel Littin Ioan (filho do diretor). Mas como ressalta o seu pai: "A presença visual de três níveis de realidade é uma parte fundamental da narrativa de Dawson Ilha 10. Passado, presente e futuro fazem parte de uma mesma verdade: dignidade. Isso aparece através da presença humana no primeiro nível da história. A verdade se torna evidente através de uma fotografia que olha para o ser humano com uma aproximação lúcida. Realismo, mas não naturalismo. Busca e recriação, não é imitação sem expressividade. "Se história conta o heroísmo diário daqueles que resistiram e derrotaram a pressão, a abordagem visual deve ser rigorosa e de acordo com a natureza do relato."
Dawson Isla 10, no cômputo geral, é um filme que não pode ser perdido. Se já saiu de cartaz nas principais capitais, em outras está sendo lançado (em Curitiba, por exemplo) e já vai sair em DVD pela Imagem.

André Setaro - Crítico de cinema e professor de comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba)

Site: Terra Magazine

segunda-feira, 19 de março de 2012

A invenção de Hugo Cabret ou de Méliès?



Da ficção para a realidade



George Méliès


Quando li a sinopse e vi o trailer  do filme“A invenção de Hugo Cabret “nada me atraiu atenção. Parecia mais um filme bobo, infantil  de “aventura” sobre uma misteriosa chave que ligava a morte do pai de Cabret. Porém esse filme “bobo” ganhou nada mais nada menos que 5 oscar. O que fez as pessoas, assim como eu, dar um pouco mais de atenção ao trama, que na verdade não conta a história de Hugo.

Alguns colegas disseram que era imperdível assistir em 3D, que os efeitos eram sensacionais, porém ao ve-lo neste formatado, não vi nada de surpreendente, algo que poderia ser meramente pontuado. Mas claro as imagens, efeitos especiais, foram muito bem produzidas.

A história não é sobre o garoto orfão Hugo e sim sobre o grande cineasta, considerado o pai do cinema: George Méliès. Junta aspectos fictícios com reais. Nessa junção de fatos conseguiu atrair públicos diferentes: aqueles que esperavam um filme, no estilo infantil para adulto, com uma história misteriosa, aventureira, com belas imagens e outros apaixonados, curiosos, sobre a história do cinema. Foi uma forma de contar uma pouco sobre a vida Méliès para um público que talvez não tinha nenhum conhecimento sobre sua existencia.
Para quem não é nenhum estudioso de cinema, ou se quer ouviu falar no nome do cineasta, a história real pode passar despercebida mas pode gerar curiosidade em saber se de fato aquele senhor existiu. Quem gosta de cinema acaba se encantado pelo mundo fantasioso da terceira arte.


Fatos verídicos


Quando o vendedor de uma loja de artigos infantis e mágicos estação de trem pega o caderno de anotações de Hugo Cabret, se sente incomodado com as anotações. Ao passar as páginas, com certa rapidez, se tem o primeiro contato da história do cinema. O famoso StoryBorad, que são aqueles desenhos consecutivos que da sensação de movimento. O estilo não foi inventado por Méliès, mas por não fazer roteiro, desenhava cada parte da cena para ser filmado.

Hugo Cabret tem um sonho que encontra uma chave no trilho do trem. Porém a máquina estava vindo a todo vapor, não conseguiu freiar e se arrastou durante metros até cair da estação. A cena remonta o acidente ocorrido em 1895, em Paris, que ocorreu a mesma situação do filme, sem o garoto é claro.

Imagem do acidente de trem ocorrido em Paris





O primeiro contado do cineasta com o o cinema foi na exibição dos filmes feitos pelos Irmãos Lumière. Ficou encantado com a máquina que reproduzia imagens em movimento. De fato ofereceu muito dinheiro para compra, mas não quiserem vender. Alguns dizem que os irmãos não davam muita importância ao invento, outros que não venderam para ficar somente com eles a câmera.

Alguns pesquisadores dizem que George foi a Londres, pesquisou e criou sua própria câmera. Outros que ganhou de um colega.

Iusionista reconhecido, viu no objeto uma forma de propagar suas apresentações.
Vendeu seu teatro onde fazia suas apresentações e com o dinheiro criou o primeiro estúdio de cinema. Comparado com fotos da época, o filme conseguiu reproduzir exatamente como era o local de gravação. Ao todo foram produzidos mais de 500 filmes e sua esposa teve participação em alguns deles. 

Estúdio de gravação de Méliès


Jeanne d'Alcy esposa de Méliès em filme


Na época produziu filmes coloridos, pois pintava película por película. Todas as cenas que mostravam os filmes de Méliès, foram realmente feitas por ele. Pois quem nunca assistiu pode imaginar que aquilo faz parte da ficção.



"As quatrocentas farsas do Diabo" Méliès



Com a I guerra mundial e a evolução do cinema, Méliès foi a falência. Seu estúdio foi abandonado, cenário queimado e seus filmes foram derretidos e se transformaram em sapatos. Morreu praticamente falido em paris em 1938 e de fato, como mostrado no filme, terminou sua vida trabalhando em uma banca de brinquedos, vendendo produtos de mágicas. Durante o período muitos filmes foram perdidos, porém pesquisadores encontraram através de coleção pessoal, e organizaram um acervo que deixou registrado para a humanidade a revolução que Méliès fez com o cinema.


No final do filme, o cineasta faz uma amostra de suas gravações. A cena faz referência ao documentário feito pela neta dele,  Madeleine Malthete-Mélies, que apresenta 15 filmes feitos pelo seu avô em um Teatro em Paris em 1997.

O personagem Hugo serviu para atrair diferentes públicos e mostrar o lado fantasioso, ilusório do cinema, "onde os sonhos acontecem" como Méliés costumava dizer.


Até agora não entendi por que o filme se chama “A invenção de Hugo Cabret” sendo que o garoto não inventou nada, apenas consertava coisas e o grande inventor na verdade era George Méliès.


Por: Lucas Molinari



terça-feira, 13 de março de 2012

Longa-metragem chileno recebe prêmio de Melhor Filme Ibero-Americano



'Bonsai', do diretor chileno Cristián Jiménez, recebeu o prêmio de Melhor Filme Ibero-Americano no 29º Festival Internacional de Cinema de Miami (MIFF), que terminou nesse domingo (11), com a exibição de mais de 100 obras de 35 países.

O longa-metragem  - uma coprodução de Chile, Argentina, Portugal e França recebeu também, o prêmio de Melhor Roteiro, pelo trabalho realizado pelo diretor Jiménez na adaptação do livro homônimo de Alejandro Zambra.

O filme, que passou por festivais como o de Cannes, Toronto e San Sebastián, aborda "a dimensão mais existencial da solidão e de seus personagens, que enfrentam essa situação se refugiando nos livros", segundo o diretor.

Violeta foi para o Céu, de Andrés Wood (coprodução entre Brasil, Chile e Argentina) e Sangue do Meu Sangue, dirigido por João Canijo, receberam os prêmios reservados à discrição do júri, dotados com US$ 5 mil cada. Nesta categoria, também competia o brasileiro Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios (Beto Brant e Renato Ciasca), adaptação do livro homônimo de Marçal Aquino.

Outros representantes brasileiros que participaram do concurso foram Heleno, do diretor José Henrique Fonseca, e O Sexo dos Anjos (coprodução entre Espanha e Brasil), de Xavier Villaverde.
Fonte: Site Terra

Aline Przybysewski