quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sétima arte para as populações ribeirinhas do São Francisco

Telão inflado, projetor ligado, cadeiras a postos. Tudo pronto para mais uma sessão do Projeto Cinema no Rio São Francisco, que desde 2004 percorre o rio da integração nacional com o objetivo de democratizar o acesso à cultura exibindo filmes para as comunidades ribeirinhas.
Este ano o projeto completa sete anos de difusão da sétima arte. Para comemorar a data, a equipe parte para mais uma expedição em abril. Dessa vez, o Cinema no Rio vai percorrer 13 cidades no estado de Minas Gerais.
O projeto comemora também os 510 anos do Velho Chico, esse caudaloso rio habitado por indígenas e anteriormente conhecido como opará, algo como “rio-mar”. Ele foi descoberto por Américo Vespúcio no dia 4 de outubro de 1501, dia de São Francisco. Desde então, fez parte de importantes momentos históricos do país.
Assim, o Cinema no Rio realiza uma série de atividades com o objetivo de promover o intercâmbio com as comunidades que vivem às margens do rio São Francisco. A principal é a exibição gratuita de filmes. Crianças, adultos, idosos e até pessoas que nunca viram um filme na vida enchem as praças das cidades. Então é luz, câmera, ação. E as emblemáticas palavras do mundo cinematográfico ganham um novo significado.
Parte desse novo sentido é criado ali mesmo, já que a equipe do projeto é responsável pela produção e veiculação de um documentário local sobre a cidade e seus habitantes. “Nos outros anos a população era mostrada nos filmes. Dessa vez, ela também vai fazer parte da produção desse curta-metragem”, adianta o diretor da CineAr Produções e responsável pela execução do projeto, Inácio Neves.
Depois dos documentários, é hora dos filmes, todos nacionais. Este ano, o projeto conta com oito curtas e seis longas-metragens, entre eles os recentes O Palhaço, com direção de Selton Mello, e Hotxuá, com direção de Letícia Sabatella e Gringo Cardia. O premiado Girimunho, com direção de Clarissa Campolina e Helvécio Marins Jr, também faz parte da lista. Depois de ser exibido em festivais nacionais e internacionais, o filme finalmente será mostrado à cidade de São Romão, aonde foi gravado. “O Girimunho nasceu no projeto Cinema no Rio e agora vai ser visto pelos habitantes que me ajudaram a produzi-lo. É o local onde eu mais tenho vontade de passar o filme”, conta Helvécio Marins Jr, diretor do longa.
As comunidades também ganham conhecimento com a oficina de fotografia Imagem em movimento, direcionada a crianças de 12 a 16 anos. Os oficineiros vão conversar sobre o assunto, ensinar as regras básicas e deixar eles saírem pela cidade fotografando tudo que for interessante. “É o olhar deles sobre o espaço em que vivem”, explica Inácio. Cada participante também será fotografado. O material será então editado e exibido na telona antes dos filmes.
Todo esse sucesso é fruto do entendimento do cinema como uma forma de manifestação cultural. “E nesse projeto ainda é mais do que isso, pois é também uma forma de conhecer as outras manifestações culturais regionais. A proposta não é só proporcionar que eles tenham contato com o cinema, mas que eles tenham contato com suas próprias manifestações”, afirma Inácio.
Ele conta que o grupo de Batuque da cidade de Ponto Chique renasceu após a passagem do Cinema no Rio, na edição de 2006. “Eles diziam que a cidade não gostava deles. Insistimos e eles acabaram se apresentando. Foi um sucesso. Pela primeira vez vimos as pessoas da comunidade participando”, lembra Inácio. O grupo criou asas e chegou a fazer apresentações até em Brasília.
Desde que foi criado, o projeto passou por diversas cidades de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, os cinco estados que recebem as águas do Velho Chico. Com as sessões gratuitas dos filmes o Cinema no Rio já levou cultura para mais de 200 mil pessoas.

Site Terra

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